O que não se deve fazer enquanto tutor online

Como pela negativa também se aprende, aqui ficam algumas coisas a NÃO fazer na tutoria online: 

– estar ausente;
– deixar as discussões vaguear ao sabor da corrente sem acompanhar e orientar o que se vai desenrolando;
– não ter um plano e uma estratégia para a discussão, que possa funcionar como guia orientador dos aspectos essenciais que importa discutir e aprofundar (embora isso seja flexível e possa sofer alterações pela própria dinâmica da discussão);
– não responder com rapidez a dúvidas, inquietações ou pedidos de ajuda dos participantes;
– mandar realizar actividades umas a seguir às outras sem dar feedback relativamente ao que se fez (e este não tem que ser individual, porque tens que ter vida para além do online);
– improvisar sem a segurança da experiência ou sem ter um plano claro de qual é a mudança que queres introduzir e porquê;
– dar sucessivas indicações contraditórias em prazos de tempo curtos, lançando a confusão entre quem não acede (ou não acedeu nesse período) todos os dias ou mais do que uma vez ao dia);
– usar um tom formal e distanciado na comunicação.

Um pensamento inspirador

Uma reflexão de Stephen Downes que achei bastante interessante:

“(…) what matters is that we are honest with ourselves, and that we share without reservation.” Honesty is hard, and sometimes people choose the safer path. And sharing is hard, and sometimes people choose silence (…)You tell the world what you want with your own conduct, and ultimately, you reap what you sow. My message was heard, I could see, and as I leave London and blog.ac.uk behind me and say good-bye, I wave in silent salute, “Hail, well met, and may the road before you be straight and true.” And I walk away and think about being a better person.

Stephen Downes
Fonte: http://www.downes.ca/cgi-bin/page.cgi?post=34527

O Silêncio Online

É preciso, contudo, compreender que há silêncios de origem diferente, e que é direito das pessoas, também, estar em silêncio e não expressarem porquê.
Vejamos o nosso curso: algumas pessoas, em determinados momentos, não puderam estar tão presentes, mas colocaram uma mensagem a dizer “não tenho contribuído mas tenho acompanhado a discussão e está a ser muito interessante”, ou “para a semana vai ser difícil contribuir, por isso não estranhem”, ou “desculpem lá mas aconteceu-me isto ou aquilo e não pude estar presente, mas agora vou tentar apanhar o comboio”. Isto é importante para o grupo (e naturalmente para os professores também), porque nos descansa quanto à situação dessa pessoa. Mas demonstra também que essa pessoa tem um vínculo ao grupo e se identifica com ele, embora por razões várias possa estar limitada quanto à participação.

Em quase todos os cursos, com poucas excepções, há sempre um grupo de pessoas cujas circunstâncias mudaram entre o momento em que decidiram começar um curso, ou já durante o curso, e que por razões profissionais – um volume de trabalho com que não contavam, novas funções, alteração da situação profissional, etc. – ou pessoais – problemas familiares, expectativas goradas, etc. – têm dificuldade em acompanhar o curso e acabam por não fazer uma verdadeira vinculação ao grupo (integrar-se e sentir-se parte dele). Algumas delas não sentem sequer necessidade disso, outras não sabem ou não conseguem exprimir ou partilhar as suas dificuldades. Esses são os casos difíceis de silêncio, mas desses normalmente o professor informa-se e vê em que medida pode ajudar a pessoa a ultrapassar essas situações. E é preciso aceitar que em alguns casos isso não é possível, em nenhuma modalidade de ensino.

Só vejo aí motivo de desconforto profundo no grupo se for a sua própria dinâmica a causar exclusão e silêncio em algumas das pessoas. Quando assim não é, e quando o grupo mostra disponibilidade e solidariedade para com os seus membros, oferecendo apoio no que for possível e fazendo todos sentirem-se parte dele, acho que há que aceitar que haja pessoas que, nesse momento, e por razões que podem ser muito variadas, não estão em condições de fazer esse caminho, porque é preciso não esquecermos que, embora esse caminho seja feito com os outros, cada um de nós tem que fazê-lo também.

Por isso acho muito bem que sejas romântica, neste sentido de desejar a plena integração e o pleno sucesso de todos (essa, por deformação profissional, é sempre a minha perspectiva). Mas também temos que saber aceitar que há problemas cuja resolução está para além de nós e daquilo que possamos fazer, e que haverá alturas em que ficamos aquém do que desejámos, sob pena de nos consumirmos a propósito de insucessos que nunca poderíamos ter evitado, esquecendo, afinal, o muito sucesso que também conseguimos.

O Tempo Assíncrono

Esta primeira questão – a do tempo – é para mim uma variáveis fundamentais na perspectiva do estudante online, ligada a outra variável que me habituei a pensar como distinta desta (embora em muitos aspectos com ela relacionada) que é a da adaptação à assincronia. Julgo mesmo que esta última, ou mantendo a lógica do e-puzzle, os aspectos ligados à adaptação ao tempo assíncrono, são uma das resistências mais difíceis de ultrapassar, ou um dos preconceitos mais difíceis de erradicar, porque construímos os nossos hábitos e processos de comunicação num modelo síncrono. Parece-me que um estudante online ultrapassa muito mais depressa as questões de gestão e organização do tempo ou até mesmo o facto de comunicar textualmente do que a ausência de um interlocutor na mesma dimensão temporal, porque é assim que representa o que é comunicar.

Aliás, basta darmos um pulinho aqui ao lado e ler as primeiras linhas do artigo “Psicologia das Interacções online e e-learning” que o Prof. António Quintas disponibilizou em PI para verificar como este é um dos grandes obstáculos (quase diria “traumas”) na adaptação à assincronia, e observar como apesar do que os estudos demonstram e do que a experiência ensina muitas pessoas persistem convictamente agarradas à ideia de que a comunicação síncrona é que é verdadeira, autêntica e relevante do ponto de vista das relações sociais e interpessoais neste contexto.

Por outro lado, uma das dificuldades maiores em termos da gestão e organização do tempo online tem a ver com a percepção inicial (errada, muito) de que este tempo, tal como o contexto, é virtual, i.e. não tem existência física, logo poderá sempre encaixar-se algures entre as várias actividades e os vários compromissos que enchem a nossa agenda. Como o mundo virtual parece existir (de facto existe) numa dimensão paralela ao mundo físico, tende a percepcionar-se a relação entre o tempo online e o tempo físico da mesma forma. E então a tendência é para ir preenchendo o tempo diário com mil e uma coisas que cabem na agenda, pensando que a flexibilidade do tempo online (faço quando quero ou me dá jeito) equivale a uma extensão do tempo disponível para fazer as coisas. Claro que, rapidamente, se percebe que não é assim, e esse é normalmente o primeiro grande momento de ansiedade e desespero, em muitos casos, sobretudo se existe um nível alto de interacção e de produção de mensagens. De facto, se o mundo virtual/online representa uma extensão, um acrescento ao mundo físico, relativamente ao tempo as coisas não se passam assim, porque ele é só um, embora possa ser percepcionado de formas diferentes. O preço da inexperiência é, geralmente, acabarmos com o dobro das coisas para fazer no tempo que temos disponível.

Por isso, é fundamental, como aliás já afirmaram outros colegas, que o estudante planifique/planeie o trabalho que tem que realizar, crie rotinas em termos do acesso à sala de aula virtual, à leitura de documentos e mensagens, à colocação das suas contribuições, etc., e reserve de facto na sua agenda o tempo para desenvolver essas actividades. Até porque, dado que o volume de informação em uso e em circulação é bastante mais elevado do que nos contextos presenciais, e ainda porque a comunicação é (maioritariamente) escrita, o tempo necessário ao desenvolvimento de muitas dessas actividades é normalmente superior (duas ou três vezes mais) ao dos contextos presenciais.