O Silêncio Online

É preciso, contudo, compreender que há silêncios de origem diferente, e que é direito das pessoas, também, estar em silêncio e não expressarem porquê.
Vejamos o nosso curso: algumas pessoas, em determinados momentos, não puderam estar tão presentes, mas colocaram uma mensagem a dizer “não tenho contribuído mas tenho acompanhado a discussão e está a ser muito interessante”, ou “para a semana vai ser difícil contribuir, por isso não estranhem”, ou “desculpem lá mas aconteceu-me isto ou aquilo e não pude estar presente, mas agora vou tentar apanhar o comboio”. Isto é importante para o grupo (e naturalmente para os professores também), porque nos descansa quanto à situação dessa pessoa. Mas demonstra também que essa pessoa tem um vínculo ao grupo e se identifica com ele, embora por razões várias possa estar limitada quanto à participação.

Em quase todos os cursos, com poucas excepções, há sempre um grupo de pessoas cujas circunstâncias mudaram entre o momento em que decidiram começar um curso, ou já durante o curso, e que por razões profissionais – um volume de trabalho com que não contavam, novas funções, alteração da situação profissional, etc. – ou pessoais – problemas familiares, expectativas goradas, etc. – têm dificuldade em acompanhar o curso e acabam por não fazer uma verdadeira vinculação ao grupo (integrar-se e sentir-se parte dele). Algumas delas não sentem sequer necessidade disso, outras não sabem ou não conseguem exprimir ou partilhar as suas dificuldades. Esses são os casos difíceis de silêncio, mas desses normalmente o professor informa-se e vê em que medida pode ajudar a pessoa a ultrapassar essas situações. E é preciso aceitar que em alguns casos isso não é possível, em nenhuma modalidade de ensino.

Só vejo aí motivo de desconforto profundo no grupo se for a sua própria dinâmica a causar exclusão e silêncio em algumas das pessoas. Quando assim não é, e quando o grupo mostra disponibilidade e solidariedade para com os seus membros, oferecendo apoio no que for possível e fazendo todos sentirem-se parte dele, acho que há que aceitar que haja pessoas que, nesse momento, e por razões que podem ser muito variadas, não estão em condições de fazer esse caminho, porque é preciso não esquecermos que, embora esse caminho seja feito com os outros, cada um de nós tem que fazê-lo também.

Por isso acho muito bem que sejas romântica, neste sentido de desejar a plena integração e o pleno sucesso de todos (essa, por deformação profissional, é sempre a minha perspectiva). Mas também temos que saber aceitar que há problemas cuja resolução está para além de nós e daquilo que possamos fazer, e que haverá alturas em que ficamos aquém do que desejámos, sob pena de nos consumirmos a propósito de insucessos que nunca poderíamos ter evitado, esquecendo, afinal, o muito sucesso que também conseguimos.

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